Como falar sobre morte com as crianças?

Nestes tempos de Covid 19 a palavra morte está presente todos os dias no telejornal, nas notícias da internet e nas conversas entre amigos. O tema veio à tona, trazendo com ele todas as angústias que costumam acompanhá-lo, pois ele representa a perda de alguém querido, que não volta mais. Geralmente a dor é por estarmos vivenciando a morte de alguém que é referência para a nossa vida, alguém que é amado e faz falta se não está conosco.

Mas como conversar sobre a finitude da vida com as crianças, sem assustá-las, nem tampouco calar suas vozes questionadoras e curiosas, atentas e receosas? A linguagem infantil não costuma ser como a do adulto. Eles falam através do ato de brincar, seus jogos e brincadeiras são símbolos que transmitem aquilo que está se passando em seu psiquismo.

Com menos de 3 anos, não há a compreensão da morte, esta é vivida como ausência daquele que não percebo mais perto de mim. Os bebês darão sinais de perceber essa ausência com mudanças em sua rotina de sono, das mamadas, com choros persistentes e mudanças de comportamento. A criança pequena apesar de ter poucos recursos para expressar a percepção de que alguém está faltando, demonstra essa percepção pelo modo de agir.

Entre 3 e 5 anos a vivência é ainda concreta e a criança acredita que pode causar a morte com seus pensamentos e palavras, por isso sente culpa e pode se sentir responsável pela morte de alguém. Há ainda uma ideia de que a morte é reversível ou de que a pessoa está dormindo.

A partir de 5 anos aproximadamente, passa a compreender a morte como algo que é irreversível, que pode acontecer a qualquer um. Com a morte percebe que cessam os movimentos da pessoa.

Aos 9 ou 10 anos já tem conceitos mais abstratos e pode compreender seu caráter inevitável, universal, irreversível e que pode ser causada por condições variadas.

Ao falar sobre a morte com as crianças é importante ter uma comunicação aberta e clara, informando sobre o ocorrido e acolhendo seus sentimentos, seu choro, dando colo e carinho. É importante deixá-la perguntar o que quiser e ser sincero, não escondendo os próprios sentimentos, mas lembrando que o momento é de ajudá-la a compreender o que está acontecendo. Permitir que ela expresse raiva, saudades, tristeza e culpa.

Podemos também utilizar filmes e livros para conversar sobre o tema. Filmes e desenhos infantis como O Rei Leão, Procurando Nemo, Bambi, Viva: a Vida é uma Festa, Up Altas Aventuras, Operação Big Hero entre tantas outras opções podem ajudar a expressar e compreender sobre a finitude e a dor da perda.

Há vários livros que podem ser lidos junto com as crianças e servir de ajuda para a conversa.

Vou reproduzir abaixo a lista de livros sugerida por Lucélia Elizabeth Paiva, no livro A Arte de Morrer, de Dora Incontri e Franklin Santana Santos (Ed Comenius), para que possa servir de guia para aqueles que buscam maneiras de introduzir o tema com os pequenos.

 

  • A história de uma folha (Léo Buscaglia

  • Tempos de vida (B. Mellonie)

  • A sementinha medrosa (M. Oliveira)
  • O medo da sementinha (R. Alves)

  • A montanha encantada dos gansos selvagens (R. Alves)
  • O dia em que a morte quase morreu (S. Branco)
  • O teatro das sombras de Ofélia (M. Ende)
  • Os porquês do coração (C. C. Silva, N. R. Silva)
  • Ficar triste não é ruim (M. Mundy)
  • Quando seu animal de estimação morre (V. Ryan)
  • Quando os dinossauros morrem (L. K. Brown)
  • Quando seus avós morrem (V. Ryan)
  • Conversando sobre a morte (C. L. C. Hisatugo)
  • O dia em que o passarinho não cantou (L. Mazorra, V. Tinoco)
  • Por que vovó morreu? (T. Madler)
  • Vó Nana (M. Wild)
  • Menina Nina (Ziraldo)
  • Morte: o que está acontecendo? (K. Bryant-Mole)
  • O decreto da alegria (R. Alves)
  • Cadê meu avô? (L. I. Carvalho)
  • O anjo da guarda da vovó (J. Bauer)
  • Vovô foi viajar (M. Veneza)
  • Emmanuela (I. Carvalho)
  • A história de Pedro e Lia (I. Adorno)
  • Eu vi mamãe nascer (L. F. Emediato)
  • Não é fácil, pequeno esquilo (E. Ramon)
  • Corda Bamba (L. Bojunga)
  • Sadako e os mil pássaros de papel (E. Coerr)
  • Oscar e a Senhora Rosa (E. E. Schimtt)

As histórias podem servir de base para conversas, pode-se pedir que façam desenhos sobre o que mais gostaram e abrir caminho para falar sobre os sentimentos envolvidos, sempre regados à colo e afeto.

 

Escrito por Marcia Tardini

Após minha formação pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) em 1991, iniciei minha atuação em clínicas na região do ABC Paulista e em consultório particular.

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